fig. Escarpas deas Portas de Ródão
Portas de Ródão
A distância em linha reta entre Vila Velha de Ródão (Castelo Branco) e Nisa (Portalegre) é de 15.30 km. Comecemos a nossa viagem nesta vila Raiana. Que raiana é nome do que raia a fronteira, quase que a toca, quase que é Espanha, mas este pedaço de história, feita vila pequena é nossa, toda nossa, deste encantador Alentejo, deste nosso Portugal.
Ver vídeofig. Nisa, vila raiana no distrito de Portalegre
Avancemos então, sem pressas na calçada vermelha desta terra famosa pelos queijos. Calquemos esta “ruinha” em serpentina sobre o chão de olaria pedrada, deixem-se levar até encontrar a fonte. Onde se enche de água estes potes de artesão, que agora seguram flores e fazem de luz nas paredes.
E recordemos as histórias dos que cá moraram porque na rua há sempre alguém com um raminho de coentros e hortelã, disposto a contar a história das gentes, ao lado das fotografias que decoram as paredes.
E para ver Espanha e olival é subir ao castelo, olhar de lado a igreja, as casas coladas, os telhados escaldados do sol e o campo que parece que nunca acaba de se desenhar. Descer, aviar uns queijos premiados, conhecer os artesãos, comprar pão quente para os trilhos e para os passeios de barco.
fig. Vila Velha de Ródão
Seguir daqui para a Vila Velha de Ródão para ver o Tejo fintar montanhas e os grifos a fazer ninho nas escarpas, sobrevoando os barcos que passam numa coreografia em espiral. E levar um vinho fresquinho, porque aqui faz calor e o passeio não demora tanto, como a vontade que temos que se prolongue.
Sou fã de passeios de barco, não sou messias, mas o que adoro sobrevoar as águas. Rendo-me em absoluto aos piqueniques nas margens do rio, e aqui o Tejo é verde escuro e tem ilhas de pescadores e fontes de virtudes. Enquanto passeias, vês o comboio a atravessar a ponte, os grifos a voar e uma imensa colónia de aves (são 116 espécies) e ficas com inveja, porque lá de cima deve ser uma vertigem espetacular. À tua direita a torre do castelo visigodo do Rei Wamba, lendas e lendas e outra história de amor.
As margens também falam em arte rupestre e são mais de 20 mil gravuras em espólio, se isto não merece um brinde? Enche o copo se faz favor.
fig. Penedo dos Cágados
Quando acabas o passeio, dá-te a fome. Aproveita e vai a Portalegre, pelas nacionais, que estas estradas do alto Alentejo, são uma perdição, pasto para o gado e para os olhos.
Chegados a Portalegre, o buffet gastronómico é vasto, avancemos para o Tomba Lobos, deliciemo-nos com uns pézinhos de coentrada com pão frito, e, uma corvina e todas as sobremesas que o Apolónio te puder trazer depois umas costeletas de cabrito.
Vais dormir de barriga para cima a ouvir cantares alentejanos e a sonhar que atravessas um rio feito de açorda de pão e coentros com ilhas de ovos escalfados.
Pernoitas de novo na vila velha de Ródão, há silêncio por todo o lado, respiras Tejo outra vez e quando acordas regalado, arrancas para outras portas, que aqui a casa não foi feita só de janelas para arejar.
Vais até às Portas do Almourão, fazes um trilho na Foz do Cobrão. A água desce, o sol sobe, a sede também. Mergulhas no Penedo dos Cágados. Continuo surpreendida com a singularidade de cada um destes lugares. Como é bonita esta pedra maciça no meio do rio.
fig. Ponte Romana em Sertã
E acabas na Sertã, no restaurante da Ponte Romana, a comer chanfana e maranhos, com doses gigantes de batatas fritas caseiras acompanhado por um bom copo de vinho e agradecer à gastronomia local por não fazerem da sazonalidade uma salada.
Por haver sempre sorrisos largos e ovos com farinheira. Por puderes estar à beira do rio Zêzere a comer como um romano. E a partir daqui, é com vocês, sobem ou descem ou deixem-se ficar na horizontal, o mal da vida moderna é o pouco que ela para se contemplar.
Acompanhem-me devagarinho, depois de acordar.