fig. Bom Jesus, Braga
Braga - Gerês
Lamento, mas não se pode dizer que se conhece Portugal sem ir a Braga e ao Gerês.
E que bela obra que Deus aqui fez. Com mais de 2000 anos de história, Braga é a cidade mais antiga de Portugal e a capital da região do Minho. A 40 minutos da cidade do Porto, vale bem o saltinho para ir conhecer e homenagear a nobre e encantadora cidade, que acolhe o túmulo do nosso primeiro rei. O estimado Afonso Henriques está sepultado na Sé de Braga, a Catedral mais antiga de Portugal. Não é à toa que se diz de algo muito velho “é mais antigo que a Sé de Braga”.
Mas Braga está cheio de imperdíveis, do Santuário de Nossa Senhora do Sameiro até à Praça da República. E para além dos monumentos, as gentes, os jardins cuidados, as ruas falantes, as serras que a ladeiam e a gastronomia.
Ver vídeofig. Santuário do Bom Jesus do Monte, Braga
Não tragam roupa apertada, que aqui, as digestões querem-se lentas e a barriga solta como o pensamento. Aqui não há frechas, há aberturas, não há aperitivos, há banquetes, não há pessoas, há gentes. Vir a Braga é quebrar, com gosto, o jejum intermitente. Um passeio a penantes até ao Bom Jesus por cada dose de bacalhau à Narcisa, arroz de pica no chão, papas de serrabulho, cabrito assado à moda de Braga e um não menos calórico pudim abade de priscos.
Não podia a imponência de Braga ser menos imponente na mesa, nas doses e nas ofertas. Bracara Augusta! E já sabiam os romanos que aqui se comeria e se beberia sempre bem. Afinal de contas é a nossa Roma Portuguesa.
Por isso, conheçam, passeiem, bebam, lambuzem-se e depois subam até este imponente monumento nacional, o mosteiro de Bom Jesus de Braga, e mostrem a Deus e aos Santos que ainda têm pernas para as melhores procissões.
fig. Elevador do Bom Jesus
Este santuário vê a cidade do alto da sua colina. Os seus mais de 500 degraus da escadaria barroca, ornamentada por múltiplas fontes temáticas, dão acesso ao edifício de estilo neoclássico que recompensa os que até ali sobem.
Em alternativa, façam aqui como a preguiçosa, que não conseguiu levar o pijama de sobremesas fartas a subir degraus e decidiu-se por apanhar o elevador. Mas também não é um elevador qualquer, é um funicular movido a água. Que aqui em Braga é tudo engenharia e atracção.
Não subi a pé, nem desci sentada. Quis dar descanso às horas passeando-me pelo jardim. Quis beber um copo de verde Aveleda e tomar notas no meu caderno. Quis ver como a cidade se faz longe de mim. Sentir-me invadida pelas cores do pôr do sol e olhar para as famílias que passeiam, tão transeuntes quanto eu. E ficar, ficar até ter fome outra vez. E planear o dia de amanhã, com a confiança de quem tem absoluto direito ao que se segue.
fig. Barragem da Caniçada
A primeira vez que cheguei a Braga foi de comboio, com os meus pais, há 30 anos. Desde então venho a Braga sempre que o trajeto me dá a oportunidade e já ensaiei desculpas só para vir aqui, aconchegar-me neste Norte acolhedor, entre a cidade velha e a serra imensa.
E de barriga cheia de cultura e vistas, já a caminho da serra do Gerês, parem para abastecer no restaurante O Castelo no cocuruto mais alto da Póvoa de Lanhoso. E peçam o que quiserem, à confiança. Estão sentados em cima da maior rocha granítica da Península Ibérica e este castelo que veem dizem que foi onde o nosso primogénito real prendeu a mãe. Portanto, um excelente lugar de peregrinação familiar.
E depois desta imersão histórica, do bife fabuloso, do vinho e das pataniscas, depois de uma sesta na pedra, aventurem-se na serra do Gerês. E aqui é Buffet! Atirem-se sem medos, inspirem todo o verde desta serra e mergulhem nas águas.
E quando há seca, pedimos sempre que venha água em abundância para alimentar este verde e estas cascatas translúcidas inscritas na pedra granítica, mas recebemos com júbilo as ruínas que o sol desvenda e as vilas que se emergem da terra.
fig. Garranos (cavalos selvagens da serra do Gerês)
E quando se vê a aldeia de Vilarinho das Furnas ficamos arrepiados, porque a barragem afogou e a terra traz à superfície. E nesse imenso conjunto de casas e ruas nós adivinhamos a vida. E é tão sepulcral quanto marciano, e tão silencioso e encantador, como pungente. Porque aqui habitou gente.
E tudo aqui é uma história, mesmo quando estás a boiar de barriga para o ar, quando trilhas a floresta, quando passeias pela monumentalidade das obras dos homens, quando te delicias com um cozido, ou decides abandonar-te numa manta a beber verde do verde que tudo é.
E vão até ao Parque das Termas, uma espécie de parque da cidade mas em ponto pequeno. Para quem gosta de árvores é uma experiência a não perder, com uma boa variedade de espécies espalhadas por uma área que se visita tranquilamente em cerca de 40 minutos. São razões mais do que suficientes para pagar o 1€ que custa a entrada. Se passar uns dias no Gerês não perca a experiência de visitar o parque.
fig. Aldeia de Vilarinho das Furnas
E se aqui estás não deves perder: Trilho do Poço Azul, Miradouro das rocas, conhecer a Vila do Gerês, Aldeia de Vilarinho das Furnas (a antiga vila submersa pela construção da barragem), conhecer São Bento da Porta Aberta, visitar a Cascata da Portela do Homem, mergulhar na Barragem da Caniçada, ver os Garranos (cavalos selvagens da serra do Gerês), comer o cozido tradicional das terras de Bouro e meter conversa com as pessoas e deixar-se viajar nas histórias de quem habita os lugares com o coração.
E o resto é o que nem sobra no prato porque é tudo memória e vontade de repetir. São 70 mil hectares, de certeza que viu tudo?
“Há sítios no mundo que são como certas existência humanas: tudo se conjuga para que nada falte à sua grandeza e perfeição. Este Gerês é um deles.” - Miguel Torga